CEM SONETOS SOB SUSPEITA

CEM SONETOS SOB SUSPEITA

Sobre este livro:

Este é o primeiro livro. Dizendo isto, já há implícita uma confissão da intenção de outros. Acaba de ser lançado e, como diz o título, traz cem sonetos. Todos devem ser lidos com intenção desconfiada, afinal o que o poeta faz senão fingir (já diria Pessoa), fingir sobre as coisas que deveras sente, e parafraseando-o, sentir os fingimentos que rascunha.
São sonetos suspeitos, porque o autor desenha em seus poemas mentiras preparadas que confessam dores que nunca sentiu. Duvide até disso que ele aqui confessa. Suspeite mais ainda. Suspeite se são mesmo suspeitos, se é mesmo mentira, ou se mente quando diz que é mentira.
Enfim, são marcas escritas de algo que é autoral, mas que é de todos, quando lido. Não são confissões de fé ou algo parecido. Mas tem muito mais de quem escreve do que teriam palavras dele, caso resolvesse explicar-se. Por isso é suspeito dos sonetos; todos cem.

sou um erro grave e torto de escrita
sou palavras pobres soltas num poema
sou só letra, nem consigo ser fonema
sou rascunho que qualquer bom gosto evita

sou papel que não se usa em carta boa
porque as boas cartas pedem bom papel
sou a rima que se usada desentoa
d'outras rimas tão amáveis do cordel

sou a tinta que com o tempo perde a cor
e por isso nunca a usa os bons poetas
porque reconhecem a tinta de valor

sou a frase mal traçada, incorreta
só escrita pelo mais triste amador
pai de rimas doentias e incompletas